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Hominis intempestivus

outubro, 12 - 2009

Eles estão por todos os lados, nadam nas correntezas da uniformidade. Um infinito de moléculas solvatadas, protegidas pela tensão superficial da multidão. Livres e entrelaçados, eles se movem em marés. Vivem seguros na tormenta, pois são eles próprios a tempestade.

Vem a enchente e, de repente, estou ilhada.

Como toda maré, é previsível. E como toda tempestade, é caótica. É ordem, é caos. Humanidade fractal.

Ela pulsa e eu penso. Enxergo à exata distância em que posso acompanhar a repetição dos padrões: meço o fluxo, calculo a vazão, prevejo suas quebras e redemoinhos… Observo. E por ser observadora, estou longe.

Posso me camuflar entre eles, pois também sou fluida. Mas tenho essa natureza airosa que me eleva, e a solidez do cascalho que me afunda. O resultado é que sempre me arrasto para as margens. Ou resisto à correnteza? Não sei. Desconfio apenas que nunca serei ou me sentirei corrente, pois tenho horror à dissolução.

Não, não estou acima nem abaixo, simplesmente estou fora. Ora quero entendê-los, mas o entendimento me frustra e escolho a negação. Ora, na minha frieza de rocha, contento-me com o conhecimento das marés. No fundo – lá onde vivo – gostaria de me reconhecer neles, mas minha imagem refrata na superfície e eu jamais me vejo. Não estou ali. A observação é minha sina. A alteridade, o meu refúgio. A solidão sou eu (e jamais um fardo, pois não é fardo ser-se).

Permita-me deus, o universo ou o acaso jamais encontrar o meu lugar neste mundo. Meu repouso é esse errar constante. A perpétua procura do ninho, da pessoa, do motivo… Que eu nunca os encontre para que a busca não termine.

Amém.

6 comentários

  1. How does it feel
    How does it feel
    To be without a home
    Like a complete unknown
    Like a rolling stone?

    Youve gone to the finest school all right, miss lonely
    But you know you only used to get juiced in it
    And nobody has ever taught you how to live on the street
    And now you find out youre gonna have to get used to it
    You said youd never compromise
    With the mystery tramp, but now you realize
    Hes not selling any alibis
    As you stare into the vacuum of his eyes
    And ask him do you want to make a deal?
    …………………..
    When you got nothing, you got nothing to lose
    Youre invisible now, you got no secrets to conceal.
    …………………..

    How does it feel
    How does it feel
    To be on your own
    With no direction home
    Like a complete unknown
    Like a rolling stone?
    ………………………

    Esquenta não Cris, Mr. Robert Zimmerman já teve dias assim..:))


  2. Bonito texto, além de intimista provoca muitas reflexões.


  3. E um bom lugar, este onde voce esta. Como tudo, tem vantages e desvantages. Mas acho que e ilusao imaginar que nao fazemos parte da Tempestade. Se e impossivel ao observador nao inflenciar no objeto observado, a pedra, mesmo parada, exerce uma forca contra a corrente. Cada um de nos tem um papel nessa Tempestade!


  4. Oi, me tocou profundamente. Me fez lembrar Ruby Tuesday e que Strangers in Paradise acabou. Também me lembrou como me vejo às vezes, tentando me sentir a vontade quando vou de uma margem a outra, nadando ora mais rápido ora mais lento, fugindo, atrapalhando, só pra não seguir sendo levado. É meio chato perceber que fazenmos parte de algo maior e que não nos agrada. Ao mesmo tempo, tudo somos nós. Acho.


  5. E eu mais uma vez “lendo-me” aqui…

    Beijos mil, Cristina!!!


  6. Navegar é preciso. Afundar não é preciso.
    😉



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