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A rotina de 13 grandes escritores

fevereiro, 18 - 2014

Mais uma postagem comentando outra postagem em dias seguidos (pra não dizer que o esforço de ressuscitar meu blog não é legítimo): Junior Silva do blog Papo de Homem fez o grande favor de traduzir um dos posts mais bacanas feitos no BrainPickings, sobre a rotina e a produtividade de grandes escritores – Ray Bradbury, Susan Sontag, Simone de Beauvoir, William Gibson, Kurt Vonnegut, Ernest Hemingway, Anaïs Nin, entre outras feras.

Em primeiro lugar, vou convidar você para clicar neste link e ler, porque esse texto é bacana e estou com preguiça de pedir permissão para colá-lo integralmente aqui.

Cada escritor dá sua própria resposta a essa questão super capciosa: COMO CRIAR UMA ROTINA DE ESCRITA?

Coloquei em caixa-alta porque essa é uma pergunta muito grande, principalmente para mim. A maior dificuldade no exercício da escrita é conseguir criar o hábito de escrever todos os dias. Analisando as respostas dos 13 escritores, posso resumir que, para Ray Bradbury e Ernest Hemingway, a PAIXÃO pela narrativa é a chave para o hábito. Já o Haruki Murakami parece ser o mais radical na manutenção de uma rotina de repetição, como um teste de resistência. Para Susan Sontag e William Gibson, escrever tem mais a ver com um “estado alterado de consciência” (acho que estou com eles) que os vai “sugando” conforme o livro se aproxima da conclusão. Curiosamente, a maioria dos escritores citados são matutinos, escrevem ou editam suas melhores partes durante as manhãs. Além disso, uma parte deles escreve ou escrevia diários – que sinal mais contundente de uma escrita de rotina?

Eu estou tentando criar uma rotina de escrita… digo isso há anos. É engraçado que no Guia de Primeiros Socorros Para o Escritor Iniciante eu saiba entoar tão bem um conselho que eu mesma não consigo seguir. Pois é!

Voltar a movimentar este blog é uma pálida tentativa de me forçar a escrever com maior regularidade – o blog é a versão contemporânea do diário, então parece bem válido. As pessoas fazem confissões para si mesmas nos diários, e hoje as pessoas fazem confissões para si mesmas e toda a rede nos blogs – eles são, por isso mesmo, uma forma muito eficiente de guardar segredos entre milhões de usuários.

Na minha aventura para tentar criar um hábito de escrita tenho percebido algumas coisas que funcionam e outras nem tanto, por exemplo:

– Tenho déficit de atenção (e já fugi de um médico que queria medicá-lo) e talvez isso explique a dificuldade de me concentrar na presença de distratores, especialmente vozes e coisas que brilham: televisão, rádio, gente conversando. Silêncio, solidão e tranquilidade são compulsórios para conseguir encadear os pensamentos. Felizmente estou conseguindo me isolar o bastante (acho que algumas pessoas entrariam em pânico com essa afirmação).

– Tenho hiperfoco e uma dificuldade incrível de dividir tarefas. Quando preciso pausar o processo de escrita para fazer outro trabalho, a retomada é quase sempre sofrida, perco muito tempo relendo e editando, e acabo recomeçando tudo de novo. É extremamente contraproducente e ainda não encontrei uma solução para isso.

– Não dá simplesmente para sentar e escrever, é preciso organizar as ideias primeiro, entrar no clima da narrativa… Difícil encaixar as preliminares quando só se dispõe de uma hora por dia. Nesses casos faço anotações, edito, mas sei que não vai ser produtivo tentar escrever com pouco tempo disponível.

– Prazos funcionam! Alguns dos textos mais complicados que produzi saíram a fórceps por conta de deadlines impostos por editores, organizadores, concursos… Reconheço que um editor-capataz estalando o chicote poderia aumentar muito minha produtividade. Apesar disso, não gosto muito de trabalhar com prazos. Nem de chicotes.

– Luminosidade: não há nada que me deprima mais do que ver o sol alto na minha janela, mas a noite é perfeita, serena, silenciosa, dá uma sensação confortável de tempo ampliado, e há aquele ligeiro cansaço que torna a cadeira mais confortável de sentar. Escrever demanda muito do cérebro, obviamente, mas pouca gente considera que exige muito da bunda também.

– Praticar exercícios (corrida ou natação) horas antes de escrever ajuda bastante a manter corpo e mente relaxados, mas se exagerar eu fico cansada e com sono. E o pior de tudo: continuo com o físico de escritora.

– Criatividade tem a ver com tesão. Não sei explicar – ou até sei, mas não me pergunte – sinto que o exercício de criar está bastante vinculado à libido. Tá bom, tá bom, eu explico… É mais gostoso mergulhar numa narrativa quando você se apaixona pelo personagem. Fácil de entender.

A verdade é que sou bastante indisciplinada enquanto escritora, e vou ter que dar um jeito de me encontrar dentro do meu próprio caos se quiser produzir. Acho que vou conseguir em algum momento, e gente me cobrando não falta… Para quem está na aventura de tentar criar um hábito de escrita, minha solidariedade. E apesar de toda a autoindulgência, pelo menos considere o conselho do E.B. White:

O escritor que espera por condições ideais para trabalhar vai morrer sem colocar uma palavra no papel.

3 comentários

  1. muito bom…e temos muitíssimo em comum…sua definição sobre escrever na noite, foi perfeita, abraços e boa sorte nesta dura jornada!


  2. Excelente


  3. Cirúrgico.



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