De tudo o que tenho lido hoje de amigos e desconhecidos pelas redes sociais, me parece que partilhamos uma sensação comum:
O Angra foi uma das coisas mais significativas de ter sido adolescente na década de 1990.
Descobri o Angra quando a banda já estava se separando, um acontecimento que sempre me deixou com a sensação de ter chegado atrasada em uma festa muito legal. Atrasada ou não, essa foi a trilha sonora no fundo de boa parte da minha vida; eram hinos brasileiros mas numa língua estrangeira , que a gente decorava e decodificava com a ajuda do dicionário. Os álbuns conceituais tinham uma mística toda peculiar, e era humanamente necessário ter todos os discos da banda. Lembro que quando eu não tinha dinheiro para comprar, pegava uma pilha de outros CDs encostados e levava para trocar na loja de discos do bairro – dez, doze discos por apenas um, muito mais valioso. Esses CDs do Angra, tão simbólicos, tão icônicos, guardo até hoje – mesmo não tendo mais um aparelho que toque CDs.
Mas eu ia falando dos anos 90… O metal melódico virou algo surpreendentemente em voga para nós, adolescentes da classe média urbana; definiu uma estética para a nossa geração, de cabelos compridos e roupas pretas, camisetas de banda com capas dos discos. A cena do metal melódico era a nossa novela, a nossa fofoca diária; um imaginário que misturava realidade e ficção sobre a vida de nossos ídolos. Muito além da mera distração, nos contagiou com uma poética – algo sutil e difícil de definir – uma poética que carrego comigo na minha formação.
Hoje me surpreende pensar que o cara que protagonizou essa revolução era só doze anos mais velho que eu, o que me soa de uma precocidade mozartiana. Protagonizou, foi o epicentro, pois o Viper, o Angra, e depois o Shaman possivelmente não teriam existido da mesma forma – ou não teriam existido literalmente – sem o André Matos com sua voz, charme e a formação clássica que ele levava para o palco e os estúdios de gravação.
Eu não esperava receber a notícia da morte do André em nenhum momento dos próximos 40 anos. Hoje, mais uma vez, eu sinto que o tempo passa e arranca de mim os personagens do livro da nostalgia, a parte humana das minhas mais humanas referências.