Mulher, chega de papo furado!
março, 9 - 2010E se você veio me dizer “parabéns pelo dia internacional da mu…”
STOP!!
Cansei desse mesmo papo todo ano, cara. É sempre a mesma coisa: um estamos chegando lá que nunca chega, uma exaltação de quem encara a jornada dupla, trabalho, casa, crianças e ainda arruma tempo pra ir no cabelereiro, como se essa rotina enlouquecedora fosse linda e louvável!
Não quero elogios rasgados nem exaltações vazias! Quero trabalhar por um salário justo e receber cada centavo que investi em tempo de estudo. Eu, que não pretendo ter filhos, não quero ser discriminada na hora de procurar emprego, assombrada por uma licença maternidade espanta-patrão. Não quero ser reconhecida por enfrentar jornadas duplas e triplas, quero investir na carreira, ter um hobby, viajar, beber cerveja com as amigas e, se me der na telha, coçar nas horas vagas!
E quero andar na rua em segurança, sem ouvir gracinhas ao passar do caminhão. E não quero que governo, instituição religiosa ou a liga das senhoras católicas da pqp me digam o que fazer ou não com meu corpo, meu território!
Mas pra que isso não fique só na reclamação, proponho algumas soluções. E por que não pra já?
Quero ver no Brasil uma licença parental compartilhada, no qual pai e mãe têm o direito de decidir quem vai sair de licença remunerada para ficar com a criança após o período mínimo perinatal. Pois deixar uma mulher de licença maternidade durante 6 meses enquanto o pai tem direito a apenas 5 dias é descaradamente abandonar sobre ela toda a responsabilidade do cuidado dos filhos. Sem comentar o fato de que todas as mulheres terão de arcar com as desvantagens competitivas no trabalho consequentes desse “direito”.
Quero também uma lei que proíba a discriminação salarial das mulheres, exatamente como a Lilly Ledbetter Fair Pay, assinada por Barack Obama em 2009. Cansei de ver pesquisas daqui e dali dizendo que mulheres estudam mais, chefiam famílias, assumem jornada dupla e continuam ganhando menos, sempre menos. Caramba, DEMOROU para criar uma lei! Deputadas, senadoras, CADÊ VOCÊS?? ALÔ!!
E não venha me dizer que lindas as conquistas do século passado. Beleza, foi! Mas há muito, muito que fazer! Que tal se você também começar a dizer NÃO a essa lorota de mulher-maravilha que leva o mundo nas costas?
Ah, cansei! Chega de conversa, garota, tenho mais que trabalhar.
Excelente ! Jah viu o salariômetro do governo do Estado? é bem interessante as discrepâncias que ele mostra nos salários, tanto em gêneros como em questões étnicas.
por Gladius março, 9 - 2010 at 8:25 pmPois é, Gladius
Tentei brincar nesse salariômetro no dia que foi inaugurado, mas não consegui pesquisar nada.
por Cris Lasaitis março, 10 - 2010 at 5:58 pmPs: Meu excelente foi para a opiniâo, não para os fatos relatados….
por Gladius março, 9 - 2010 at 8:27 pmCada vez me surpreendo mais com o que senhorita escreve. E nada melhor do que alguém que expõe a sua opinião com tamanha contundência e baseada simplesmente na realidade dos fatos. As mulheres obtiveram conquistas no século passado? Claro que sim. Mas sabemos que isso está longe de ser o suficiente. Nossa sociedade ainda é muito machista. E o que é pior: um machismo velado e não raras vezes oculto sob um manto assistencialista, como demonstra a licença maternidade muito bem citada por ti. Mesmo assim, me permita parabenizá-la, Cris. Não pela data de ontem, mas pela mulher inteligente e sensível, bem como pela profissional brilhante que és. Beijos e sucesso sempre.
por Átila Oliveira março, 9 - 2010 at 10:39 pmNa Suécia, o imposto de renda recolhe 50% na folha de pagamento de todos os assalariados. Isso dá uma vaga idéia da quantidade de recursos financeiros necessários para bancar a lei da licença paterna.
O pai (ou a mãe) que está de licença recebe durante um ano 80% dos rendimentos como ativo, sendo que 16% vem da empresa e 64% do estado. .
Você cobra de todos inclusive de quem não tem e não quer ter filhos, para sustentar a aplicação desta licença.
Será que isto é justo ?
por Jorge março, 10 - 2010 at 1:03 pmJorge,
Em primeiro lugar, nós brasileiros pagamos imposto pracaralho! E não fosse um pequeno número de privilegiados previdênciários responsáveis pelo rombo financeiro da seguridade social (sem mencionar corrupção, desvio de verba, etc) nossa previdência poderia ser muito mais justa e eficiente.
Segundo, não estou falando em aplicar a lei da Suécia aqui, mas em deixar a lei atual mais eqüitativa, permitindo que o homem e a mulher decidam sobre quem fica com a criança durante quanto tempo dentro desses 6 meses.
Mas não tenho muitas esperanças de que esse quadro mude, pois, por paradoxal que soe, o nosso Estado é paternalista.
por Cris Lasaitis março, 10 - 2010 at 6:05 pmAntes de mais nada: parabéns Christie, mais um artigo excelente. Podia ter finalizado o mesmo com a sádica frase: “A única escrava com título de nobreza é a Rainha do Lar”, hehehehehehe.
Jorge, muitos países europeus estão enfrentando a queda no índice populacional, lá os casais são incentivados a terem filhos.
por Ivo Heinz março, 10 - 2010 at 1:54 pmPopulação, a longo prazo, é um assunto de Estado, sim; daí aquela conta de 2 filhos por casal para manter a população estável.
São os trabalhadores de hoje que sustentam os aposentados (que trabalharam ontem), esta “bomba-relógio populacional” já causa dores de cabeça a americanos, europeus e japoneses, breve sentiremos o mesmo efeito.
Não, quem não quer ter filhos não deve pagar por quem resolveu ter, concordo contigo.
mas quem vai pagar pelo sustento do Estado e as aposentadorias no futuro ??? Esta é a questão de Bilhões de Dólares que ainda não foi respondida.
Os robôs, Ivo. Os robôs!
por Cris Lasaitis março, 10 - 2010 at 6:07 pmExcelente artigo! Mas olha, apesar de eu também considerar um porre essa data, ela nos serve de lembrete de que ainda devemos lutar pelo que nos é devido. Num mundo justo, essa data não existiria… até eliminar a data ainda temos um longo caminho pela frente =/ Se não tivesse o dia, será que íamos nos lembrar de que ainda existem coisas a serem arrumadas?
por Giseli março, 10 - 2010 at 10:07 pmCris,
Eu usei a lei sueca só para te dar idéia do que seria necessário pagar a mais de imposto para garantir algum tipo de licença para mãe e pai. Aqui no Brasil existem muitos impostos, porém não chega ao nível dos países europeus
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_tax_revenue_as_percentage_of_GDP
Ah ! sim… e se você acha que lá no andar de cima não tem político safado, desvio de verbas, etc, dá uma procuradinha na internet sobre o que Mr. Gordon Brown andou aprontando, isso para não falar no Berlusconni …
Eu sou a favor de boas creches, no local do trabalho, com vagas para todos os filhos dos funcionários.
A licença de quatro meses era originalmente para a criança ser amamentada pela mãe com mais facilidade… Estender para seis meses a licença para mãe garante a criança melhor alimentada. O homem e mulher compartilhando estes seis meses melhorariam a qualidade de vida da criança ? Eu creio que não.
Quanto a pagar impostos, eu estou com as minhas duas declarações (PJ/PF) abertas aqui na minha frente, tentando imaginar qual o FDP que
por Jorge março, 11 - 2010 at 1:30 amarbitrou que eu tenho que compartilhar minha renda parca e suada com a porr@ do estado que só criou dificuldades para eu obte-la..
Amen, sistah. Disse a garota que está batalhando um aumento há mais de 1 ano. :-S
por Camila Fernandes março, 11 - 2010 at 2:06 amCristina,
Há um bom tempo sigo o seu blog e não poderia deixar de manifestar a minha admiração pelo seu potencial crítico, versatilidade e sensibilidade…
Ressalto que o Dia Interncaional das Mulheres é marcado como um dia de luto na História… Infleizmente, conseguiram “subverter” o sentido de luta!
Parabéns pelas brilhantes colocações e pela estrutura do blog!
Luciana.
por Luciana Lenoir abril, 3 - 2010 at 10:46 pm